terça-feira, 21 de maio de 2013

O EXTRAORDINÁRIO PODER DA LEITURA

Era comum no tempo dos nossos avós a expressão “Ah! Se eu tivesse leitura!”. Não ter leitura significava a falta de oportunidade de aprender a ler. Há cinquenta anos, 40% da população brasileira eram de analfabetos e o governo militar criou, em 1967, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), com a tarefa de alfabetizar em massa, na tentativa de reduzir a estatística e dar ao povo melhores condições de vida. 
                           O que era provisório reinou de 1967 a 1985. Reduzir estatística de analfabetismo não é o mesmo que erradicar a fome do saber e não preparou o povo para a leitura compreendida e refletida e não se resolve isso, num passe de mágica, por decreto federal.
Atualmente, a taxa de analfabetismo é de 9%, totalizando 13 milhões de brasileiros. O percentual, ainda, é alto e não se deve confundir alfabetização com escolaridade. O fato de se frequentar uma escola, não é suficiente, para que uma pessoa seja considerada alfabetizada. Saber juntar as palavrinhas não é ser alfabetizada. A pesquisa do IBGE não leva em conta o nível de proficiência dos alunos em leitura e escrita, o que torna a situação da leitura no Brasil estarrecedora. O Indicador de Alfabetismo Funcional – INAF - informa que 70% da população têm dificuldades para ler e que apenas 16% dos que concluem o ensino fundamental são alfabetizados.
Quanto à escolarização, o Brasil tem mais de 3,5 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos fora da escola e a metade corresponde a jovens de 15 a 17 anos. Na Pesquisa SAEB/MEC, de 2011, com alunos concluindo o curso fundamental, incluindo escolas públicas e privadas, 44% não sabiam ler e 47% não sabiam escrever e em alunos da 4.ª série, só 34% têm o aprendizado adequado em português e, por via de consequência, no ensino médio, somente 29%. Eu não sei se tem a ver, mas em 2010, o Brasil, excluindo-se a impressão de livros escolares, imprimiu 493 milhões de livros contra 2,57 bilhões de livros nos Estados Unidos. A diferença é gritante.
Nos países europeus, a média de leitura é de 8 a 10 livros ao ano e o brasileiro lê, em média, 4,0 livros ao ano. Os dados fazem parte da pesquisa Retratos da Leitura, de 2012, pelo Instituto Pró-Livro. O pior de tudo é saber que do total de 4,0 livros lidos ao ano pelos brasileiros, 2,1 livros são lidos inteiros e dois em partes. Além do total ser pequeno, é preciso analisar a qualidade do que se lê. Este é outro sério problema.
Pesquisas recentes indicam que os professores são os que mais influenciam os alunos à leitura, tomando o lugar das mães. Respire fundo porque professores bem treinados dependem de bons salários para acesso a livros não didáticos. De novo, esbarramos nas políticas desfocadas que os governos têm para a educação.
Você deve estar reagindo – Mas, o Brasil melhorou e hoje, o povo tem “leitura”. Será? Não é suficiente saber ler, o grande desafio é preparar os leitores para a interpretação de textos, pois, os textos não devem ser somente melodiosos e bonitinhos, eles têm que ser compreendidos e refletidos e os leitores precisam adquirir a capacidade de enxergar por trás das palavras (metapalavra).
O Brasil precisa investir mais no ensino, avançar na educação do povo e criar programas de incentivo ao prazer da leitura, de tal forma que a gente veja nas filas e nos ônibus as mãos cheias de livros e as pessoas frequentem livrarias e bibliotecas, o que é muito comum ver na Europa e nos Estados Unidos. O hábito da leitura é formado também através da conscientização das famílias. Crianças que veem seus pais lendo e os vê fazendo anotações, grifando e trocando dicas de leitura com os amigos, são modeladas à leitura.
A estatística de leitura tem melhorado sim, nos últimos anos, mas o Brasil está longe de ter políticas públicas de incentivo à leitura. Ora, se “nada está no intelecto, sem antes passar pelos sentidos” e só se escreve com competência quem lê regularmente, eu não sei o porquê do silêncio da sociedade brasileira e das instituições, diante desse quadro chocante. Desconfio que os políticos não se interessem muito, a apuração do senso crítico do povo, que o transforme em questionador e aumente a sua taxa de exigência, não os agrade.
Saber ler e escrever é o conhecimento mais importante para a plena conquista do ser humano. Um povo que lê é um povo culto. Posso assegurar que o extraordinário poder da leitura me ajudou a quebrar a inércia de origem e a vencer as grandes dificuldades que cruzaram o meu caminho.
Imagine se o nosso povo lesse mais!

Eudes Moraes é autor dos livros Multiverso e No Divã com Deus.
Londrinense, com curso de graduação em Psicologia pela Unifil.

Fonte: Sistema de Bibliotecas da UEL

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