segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ler é lição que vem de casa

Crianças e adolescentes formam a maior parcela de leitores no Brasil


Carlos André Moreira e Paulo Germano

A situação do livro no Brasil é crítica, a juventude não lê nada, a escola não ajuda, os brasileiros leem pouco. Os exemplos acima são lugares-comuns repetidos exaustivamente quando o assunto em pauta é o índice de leitura dos brasileiros. Para choque dos alarmistas, quase todos estão errados: crianças e adolescentes formam a maior parcela de leitores no Brasil. Em parte, graças à escola. E sempre com apoio fundamental da família.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada há alguns meses pelo Instituto Pró-Livro, entidade que congrega instituições do setor, como a Câmara Brasileira do Livro, colocou pela primeira vez em termos científicos noções que até ali eram apenas intuídas, e permite uma ampla gama de abordagens a problemas envolvendo a disseminação do livro no Brasil. No mês em que se comemoram o Dia Internacional do Livro e o Dia Nacional do Livro Infantil, a pesquisa apresenta dados que, se estão longe do ideal, mostram um quadro menos pessimista.

– O índice de leitura no Brasil é muito melhor do que se esperava, porém ainda aquém do que se poderia chegar. Mas há notícias boas. Somos um país de 95 milhões de leitores – e dois terços deles vêm da escola. A leitura na infância está sim, ocorrendo. – comenta Galeno Amorim, coordenador da pesquisa.

Outro clichê recorrente quando se trata do assunto são críticas ao papel da escola como formadora de leitores, e elas são, sim, em parte justificadas. As pessoas leem na escola e abandonam o hábito à medida que se afastam dela – o que talvez falte seja a capacidade de envolver a leitura não apenas na aura de obrigação, e sim de encantamento, algo que passa pelo ambiente familiar. Tanto que a maioria dos que se definiam leitores na pesquisa (ou seja: que haviam lido um livro nos últimos três meses antes da entrevista) tinham como lembrança o incentivo da mãe e situações em que os pais liam para eles na infância. A consolidação do aprendizado da leitura se dá em casa.

– O nosso imaginário da leitura tem como referência a família. O professor pode ser bom, mas o que fortalece o ambiente de leitura é a ação dos pais – comenta Regina Zilbermann, professora de Letras na UFRGS.

Com ela, concorda o psicanalista e escritor de obras voltadas para crianças e adolescentes Celso Gutfreind. A leitura, na infância, precisa começar como uma curtição em grupo, segundo ele:

– Ler é ter prazer com a imaginação. E a imaginação não é algo que se desenvolve sozinho – ressalta Gutfreind.

Quem não lê é o adulto

Crianças em idade escolar normalmente leem mais do que os adultos por três fatores: crianças e jovens têm mais tempo livre, precisam ler por exigência da escola e nela têm mais facilidade de acesso aos livros. O grande nó está em como fazer essa população escolar continuar lendo depois de sair do colégio.

– A pesquisa mostrou que essa mesma escola ainda falha na tarefa de formar leitores para a vida toda. – diz Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura e coordenador da pesquisa do Instituto Pró-Livro.

Há mais de uma razão para isso: a entrada no mundo profissional reduz o número de horas livres para a leitura, e a própria relação do aluno com a leitura na escola é associada com uma experiência obrigatória, a ser abandonada na primeira oportunidade.

– Sempre se diz que o jovem não lê, mas o que se vê é que o jovem lê, quem não lê é o adulto – ressalva Amorim. – Quando você pergunta aos estudantes a que associam os momentos de leitura, 60% diz que associa com prazer, e só 32% falam que associam com obrigação. O jovem gosta de ler, tem de ser é seduzido do modo certo.

A região sul tem a maior média de livros lidos por habitante, e o Estado tem uma boa média de leitura em comparação com os demais, 5,5 livros por habitante ao ano. Já a região "Noroeste" do Rio Grande do Sul apresenta o maior índice de leitura de todo o Estado: 6,6 livros por ano – e não por acaso é a área que inclui Passo Fundo, mostrando que duas décadas de Jornada Nacional de Literatura tiveram efeito positivo na formação permanente de leitores. Com política séria, os efeitos aparecem.

Matéria publicada em  27/04/2009

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