domingo, 10 de abril de 2011

Leitura e convergência de mídias

Ezequiel Theodoro da Silva é da Faculdade de Educação da Unicamp

“Estamos virando aparelhos; os homens andam como robôs, falam como microfones, ouvem como celulares. Não sabemos se estamos com tesão ou se criam o tesão em nós. O Brasil está tonto, perdido entre tecnologias novas cercadas de miséria e estupidez por todos os lados.” Arnaldo Jabor, "Blogs, Twitter, Orkut e outros buracos", Correio Popular, 03/11/2009.

Da década de 1990 para cá, as práticas de leitura se diversificaram sobremaneira através das conquistas geradas no âmbito da tecnociência. A convergência e a integração de várias linguagens num único objeto - recurso, ferramenta, instrumento - de comunicação não apenas aceleram a circulação de informações nas sociedades contemporâneas, mas impõem a aprendizagem e o domínio de novas competências de leitura para o acesso, manejo e usufruto dos novos meios. E a convergência desses vários meios – ou mídias – de comunicação, envolvendo um mosaico de linguagens articuladas, interconectadas, interativas e multifuncionais, também representa uma complexificação dos processos de leitura nos dias atuais.

A aprendizagem da leitura também se complexifica: ao invés de tão somente virar as páginas de um livro, jornal ou revista, o leitor de hoje tem de executar uma série de operações nas diferentes máquinas a fim de "desdobrar" um ou mais textos ou signos vários a fim de ler e compreender mensagens. Por exemplo, caso a interlocução de leitura seja feita na telas de um computador, há uma série de passos a serem seguidos e de operações a serem executadas pelo leitor até chegar ao texto desejado, o que envolve ligar o aparelho, movimentar o mouse, teclar, buscar o provedor, selecionar a seção, desviar-se dos riscos dos vírus e assim por diante. Outras mídias (celular, I-pad, Kindle, lousa interativa, etc), pedirão, igualmente, um conjunto específico de competências para poderem ser usadas ou, se quiser, "lidas".

A escola e os professores, também responsáveis pelo ensino das linguagens às novas gerações, têm um compromisso com o desenvolvimento de uma sensibilidade para com os avanços resultantes da convergência de mídias. Isto porque, quer queira quer não, as mídias (impressas, digitais, audiovisuais, multimidiais, etc.) são as grandes propulsoras da comunicação, do conhecimento, das descobertas científicas, das artes e dos debates sociais no mundo atual. Igualmente, o magistério, para concretizar o ensino e dinamizar o currículo, necessita de ferramentas específicas para o trabalho com os conteúdos do saber, de diferentes canais de comunicação e de metodologias específicas para dinamizar os relacionamentos humanos e as aprendizagens no espaço escolar. Quer dizer, o magistério, para se concretizar, precisa das mídias.

Refletir a respeito do desafio resultante da convergência de mídias na esfera das práticas de leitura é uma necessidade premente. Se é verdade que a formação de leitores não depende exclusivamente da escola, mas da família e de toda uma atmosfera social rica e propícia, pode-se imaginar o tamanho do desafio educacional e cultural que é a formação de leitores no Brasil. Isto porque dentro do contexto brasileiro a desigualdade social se faz escancaradamente presente, a distribuição de renda é uma das menores do mundo e a dívida dos governos para com o magistério e infra-estrutura das escolas é gigantesca, sem que se antevejam claramente as ações de enfrentamento dos problemas e as estratégias de superação.

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