quinta-feira, 22 de julho de 2010

V Seminário "O Professor e a Leitura de Jornal"


Seminário projeta a educomunicação

Encontro entre educadores em Campinas ratifica a necessidade de capacitar professores para trabalharem melhor com os veículos de comunicação

Ayne Salviano

Capacitar educadores capazes de trabalhar com a mídia para conseguir formar jovens produtores de conhecimento. Esse é o desafio e, ao mesmo tempo, a proposta firmada pelos participantes do 5o. Seminário Nacional “O Professor e a Leitura do Jornal – Educação, Mídia e Formação Docente”, realizadoentre os dias 14 e 16 de julho na Unicamp (Universidade de Campinas).

O evento foi promovido pela ALB (Associação de Leitura do Brasil), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Grupo de Pesquisa “Alfabetização, Leitura e Escrita” da Faculdade de Educação da Unicamp e a RAC (Rede Anhanguera de Comunicação).

A Folha da Região participou das conferências, mesas-redondas, oficinas e comunicações, além das reuniões extras da ANJ, entre os dias 13 e 16 de julho, para discussão e planejamento do Programa Jornal e Educação.

ÉTICA

Já na abertura oficial do seminário, no dia 14 pela manhã, durante a conferência “Ética e Multimídia”, o filósofo Mário Sérgio Cortella, doutor em Educação pela PUC/SP, ressaltou a necessidade do professor ter o que ele chamou de “humildade pedagógica” para continuar aprendendo sempre, especialmente com relação aos veículos de comunicação, suas ferramentas e plataformas.

“Para que serve a mídia?”, provocou a plateia. Para emendar: “A finalidade da mídia é ética, ela serve para evitar a nossa arrogância e soberba”, destacou. Por isso, para ele, os educadores precisam conhecer os fatos e dominar as novas tecnologias para poderem realizar melhor uma relação para a qual Cortella fez até um trocadilho usando os prefixos Doc (docente, aquele que ensina), Dic (discente, aquele que aprende) e Dec (que orna): “O que orna (dec) é o docente (doc) saber ensinar e conduzir para o discente (dic) poder realmente aprender”.

PROGRAMAÇÃO

O professor Carlos Eduardo Albuquerque Miranda, da Faculdade de Educação da Unicamp, proferiu uma conferência no dia seguinte (15) quando demonstrou trabalhos de audiovisual realizados pelos alunos do curso de pedagogia daquela universidade. Na sua opinião, os educadores formados com disciplinas inovadoras como a ministrada por ele terão mais possibilidades de transformar documentários e filmes em ferramentas importantes do ensino. Por este motivo, ele é a favor de uma grade curricular “mais moderna”.

O “pai da educomunicação”, professor Ismar de Oliveira Soares, da USP (Universidade de São Paulo) falou ao público no último dia do evento (16), e aproveitou para fazer propaganda do curso de licenciatura que aquela universidade vai oferecer a partir do ano que vem. Para ele, é impossível pensar na educação e na melhoria dos índices brasileiros sem incluir nos planos de ensino as diversas mídias disponíveis. De acordo com Ismar Soares, é preciso “trazer para a sala de aula o que os alunos já vivenciam fora dela”.

NOVIDADES

Nas mesas-redondas, educomunicadores como Wendel Freire (jornalista responsável pelo Programa Leitura e Educação no jornal O Dia, do Rio de Janeiro), Marco Silva e Edméa Santos trataram de educação, cybercultura e multimídia. A jornalista e professora Alexandra Bujokas de Siqueira (contratada da Unesco para elaborar projetos de mídia e educação) e Regina de Assis, exsecretária da Educação do Rio de Janeiro no governo César Maia, trataram sobre mídia e educação a partir de práticas e perspectivas de políticas públicas. E o autor Edvaldo Pereira Lima e Susana de Oliveira Dias, do Laboratório de Jornalismo da Unicamp, abordaram os temas jornalismo-reportagem, jornalismo literário e jornalismo científico.

Foram realizadas 10 oficinas que abordaram temas como o uso dos jornais nas salas de aula; a leitura dos diferentes tipos de mídia em sala de aula, a partir do celular; o blog como ferramenta na educação; a produção de audiovisual; a leitura crítica do Youtube; como os textos da mídia estão sendo aproveitados nas provas oficiais de avaliação; o vídeo e a rádio na escola; as histórias em quadrinhos, entre outros.

Aconteceram, ainda, mais de cem comunicações paralelas de estudantes, professores e pesquisadores de todo o país. Houve lançamentos de livros, rodas de autógrafos, sessões de cinema e exposições, com destaque para a “Exposição de Jornais e Revistas do Século XIX” realizada na Biblioteca Central da Unicamp.

A conferência de encerramento, no dia 16, foi feita pela psicóloga e escritora Rosely Sayão, colunista da Folha de S.Paulo, que traçou um perfil de quem são as novas crianças e adolescentes que desafiam os professores e os métodos tradicionais de educação hoje.

Para Norma Sandra de Almeida Ferreira, presidente da Comissão Organizadora, o evento precisa servir de divisor de águas na formação e prática docente. “Esperamos que a partir de agora, uma nova proposta seja pensada por todos nós”.


Sociedade se esforça para entender a mídia

De acordo com o professor Ismar de Oliveira Soares (USP), uma definição simples e direta da educomunicação aponta para um esforço sistemático que setores da sociedade voltados para a educação estão fazendo para ampliar as formas de expressão, garantindo, por exemplo, que novas gerações usem as tecnologias, não de forma competitiva e mercantil, mas em prol da cidadania.

“A educomunicação é o conjunto das ações voltadas a criar e consolidar – seja em uma empresa, um centro de cultura, uma escola ou mesmo na redação de um veículo de informação - ecossistemas comunicativos abertos e criativos, propiciados por fluxos cada vez mais democráticos de informação, carregados de intencionalidade educativa, tendo como objeto último a prática da cidadania”, ensina. Nesse sentido, um dos pilares da educomunicação é a responsabilidade social.

INÍCIO

A educomunicação vem se desenhando desde a década de 1970, representada pelo esforço da sociedade em se aproximar do mundo da comunicação para promover causas de seu próprio interesse. Na América Latina, especialmente, ficaram conhecidas as iniciativas dos grupos que passaram a utilizar os processos da comunicação, como o teatro, e os recursos da informação (pequenos jornais e emissoras comunitárias de rádio) numa perspectiva participativa, como sugeria o educador Paulo Freire.

O movimento ganhou respaldo da Unesco - no final da década de 1970 e início dos anos 1980 - que passava, nesse período, a discutir a urgência de se promover uma “nova ordem mundial da informação e da comunicação”, programa conhecido pela sigla Nomic.

Entre os anos de 1997 e 1999, a USP (Universidade de São Paulo) realizou uma pesquisa em 12 países da América Latina para identificar como estavam ocorrendo as práticas sociais na relação entre a comunicação e educação, envolvendo tanto os centros de cultura alternativos quanto a educação formal e a própria mídia. Estes resultados serviram de base para a elaboração do curso de licenciatura que será oferecido por aquela universidade a partir de 2011. As inscrições para o vestibular começam em agosto.

IMPACTO

“A educomunicação promove mudanças e não haverá melhoria na educação nos próximos anos se o sistema educativo não se preocupar com o universo da comunicação”, afirma o professor Ismar. Ele sugere que o sistema escolar “quebre resistências” e dialogue com os especialistas da área comunicativa.


ANJ promove cidadania pela leitura

OPrograma Jornal e Educação: Da Leitura à Cidadania da ANJ (Associação Nacional de Jornais) foi criado em 1992 com o objetivo de formar leitores críticos e autônomos. Também deseja fomentar o acesso à informação e a participação social, observados os valores da democracia e dos direitos humanos.

Hoje, aproximadamente 60 jornais ligados à entidade desenvolvem o trabalho em todas as regiões do País. São projetos voltados para a conquista da cidadania a partir do estímulo à leitura, melhoria da qualidade da educação e democratização do acesso à informação para todos os estudantes brasileiros, em todos os níveis.

Para a ANJ, a informação é capaz de gerar transformações sociais importantes, pois incentiva a reflexão sobre os processos de produção midiática, o que permite a criação de um senso crítico importante para os protagonistas sociais.
AÇÕES

As empresas de comunicação envolvidas no projeto distribuem jornais, promovem palestras, oficinas, cursos e eventos com profissionais da educação e da mídia, dentro dos conceitos da educomunicação. Pesquisa realizada pela ANJ entre 2008 e 2009 aponta que trabalhos planejados e sistemáticos conseguem atingir benefícios como a melhora do gosto pela leitura, ampliação do vocabulário, desenvoltura na produção de textos orais e escritos, melhora da argumentação, favorecimento do trabalho em grupo, aumento da imaginação, interpretação e criatividade além da facilidade de assimilação de conteúdos. A mesma pesquisa apontou que a utilização de jornais em sala de aula como complemento do livro didático tem reforçado a interdisciplinariedade e socialização entre conteúdos, professores e alunos.

ARAÇATUBA

A Folha da Região participa do Programa Jornal e Educação pelo 16º ano consecutivo. A empresa distribui gratuitamente um exemplar diário para as bibliotecas das escolas cadastradas - públicas e particulares – e lotes de 20 jornais por semana para utilização, pelo professor, em sala de aula.

Além disso, oferece curso de capacitação docente para que os profissionais possam trabalhar melhor com esta mídia em sala de aula. Em agosto, aproximadamente 30 professores da educação infantil da Secretaria Municipal da Educação vão receber os primeiros certificados. Ainda em agosto começa uma segunda capacitação para os professores municipais do ensino fundamental.

A Folha também recebe visitantes em passeios monitorados, quando os estudantes conhecem o processo de produção do jornal, além de promover concursos periódicos.

Matéria publicada em 22/07/2010

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