quarta-feira, 7 de julho de 2010

Bebeteca estimula a leitura nas creches

Bruna Gonçalves
Diário do Grande ABC

A importância da leitura não é novidade. Mas muitos desconhecem que o estímulo e o interesse pelos livros começa muito cedo, antes da idade pré-escolar, ainda bebê. Para tanto, decoração e mobília atraentes. Esse é o conceito das bebetecas, bibliotecas escolares voltadas a crianças de até 3 anos.

Há um ano e meio, a Prefeitura de Ribeirão Pires investiu na criação desse espaço nas 15 creches, atendendo 1.360 alunos dessa faixa etária.

Segundo a secretária de Educação e Cultura, Rosi Ribeiro de Marco, o objetivo é a formação de novos leitores. "A preocupação é despertar o interesse na criança, que só acontece na pré-escola, mas aliada à diversão. O acervo é diversificado, com livros de sons, texturas, formas e histórias de animais", disse.

A intenção da secretária é também estimular a participação da família. "Todo fim de semana os alunos levam para casa um livro. Sabemos que muitos trabalham, mas é importante esse momento com os filhos."

Para a professora de literatura infantil Renata Junqueira de Souza, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente, a família é a primeira mediadora da leitura. "Os pais precisam ser leitores e estimular os filhos. Não podem deixar essa função apenas para a escola", disse a professora, que afirma que falta o hábito da leitura na sociedade brasileira.

COLORIDO - Cores atraentes, prateleiras baixas cheias de livros com capas coloridas, texturas diferentes, pinturas na parede, alguns brinquedos e bichinhos de pelúcia espalhados pela sala e um tapete de borracha. É nesse ambiente que as crianças da Emei Angelina Denadai Bertoldo, em Ribeirão Pires, têm os primeiros contatos com o mundo literário. Segundo Renata, pesquisas mostram que crianças ‘apresentadas'' a livros desenvolvem a fala mais depressa.

Segundo a diretora da escola, Lígia Gallo, todos os dias os alunos visitam o espaço. "As crianças permanecem por meia hora. Há momentos em que a professora conta uma história. Em outros, os alunos é que escolhem um livro ou simplesmente mantêm contato com o acervo", disse.

Para a diretora, as crianças ficam animadas para esse momento. "Elas entram já interagindo, por conta do ambiente colorido, que chama a atenção", contou Lígia, que durante as reuniões tenta conscientizar a importância da leitura para os pais.

BENEFÍCIOS - Para a coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisa do Brincar da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Maria Angela Barbato Carneiro, a bebeteca estimula o desenvolvimento da memória, da linguagem, do raciocínio, além da interação com as crianças.

São Bernardo e Diadema possuem acervos para bebês

Em São Bernardo, as escolas contam com bibliotecas que possuem acervo para crianças até 3 anos. Segundo a chefe de seção das bibliotecas escolares, Maria do Carmo Cardoso Kersnowsky, o local possui livros de acordo com a idade. "Nessa faixa etária, priorizamos os livros de banho, de bichinhos e fantoches para estimular o interesse pela leitura. Ao todo são 35 bibliotecas nas escolas. As que não possuem, tem espaço com livros."

A coordenadora pedagógica Dislene Sousa, da Emeb Cecília de Oliveira Turbay, no Riacho Grande, explica que há o projeto Biblioteca Circulante, em que o livro é levado para casa. "A criança fica por uma semana com o livro. Há uma rotina na escola, em que vão duas vezes por semana à biblioteca."

A Prefeitura de Diadema informou que nas 15 creches há espaços voltados para a leitura e um brinquedista que realiza atividades com os alunos.

Santo André informou que não possui e as demais prefeituras não responderam.

Pais aprovam iniciativa em creches da região

Muitos pais admitem que o desenvolvimento dos filhos melhorou após o contato com os livros. O coordenador de produção, Edílson Aparecido Gimenes, 42 anos, de Ribeirão Pires, notou a diferença nos filhos gêmeos de um ano e meio. "Há um interesse maior. No fim de semana, quando chegam com os livros, ficam ansiosos para a leitura. Mostro sempre as imagens, a escrita e a atenção é total. Além disso, procuramos deixar umas publicações em casa, de fácil acesso", disse.

A professora de Ribeirão Pires Luzinaide Mota Klen, 35, mãe de um menino de um ano e nove meses, admite que ele está desenvolvendo a fala melhor que os outros dois filhos que não tiveram o contato com livros. "É estímulo importante. Há vezes em que ele não deixa eu fazer janta para ficar contando histórias", explicou.

O incentivo no ambiente escolar desde pequeno é fundamental, na opinião da técnica em nutrição Giuliana de Oliveira Tibério, de Ribeirão Pires. "Nem sempre há tempo em casa, e começar a estimular a leitura ainda pequeno traz um resultado benéfico", disse a mãe de um menino de um ano e sete meses.

Para a psicóloga Márcia Murinelly Gomes, 48, de São Bernardo, os livros ajudam no desenvolvimento da imaginação e da fala. "Em casa, tenho uma estante com vários livros para estimular minha filha, de dois anos e oito meses. É nesse momento que começa a despertar o gosto pela leitura."

Especialistas dão dicas de como estimular a leitura em casa

Mesmo que a escola não ofereça uma biblioteca ou os pais não tenham condições de comprar livros, a coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisa do Brincar da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Maria Angela Barbato Carneiro, dá algumas dicas de como os pais podem improvisar.

"O que importa é o contato da criança com as cores, figuras e texturas. Isso não é encontrado apenas nas livrarias", disse.

Segundo a coordenadora, os pais podem usar embalagens de papelão e recortá-las em vários formatos e tamanhos. Ela também sugere pegar tecidos de várias texturas e colocar no papelão para que a criança conheça as diferenças por meio do tato. "São pequenas coisas que fazem com a criança exercite a estimulação visual e sensorial, além da imaginação e do raciocínio. Assim ela irá conseguir diferenciar no futuro com mais facilidade."

Publicado em 4 de julho de 2010

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