terça-feira, 29 de junho de 2010

Livros de graça nas ruas

Iniciativa de professora e 30 alunos do Instituto Coração de Jesus de abandonar obras literárias em espaços da Praça da Estação, no Centro da capital, encanta trabalhadores

Daniel Antunes - Estado de Minas
Publicação: 24/04/2010


Cláudio Roberto, gari que achou livro no banco da praça:
"Não sou muito de leitura, mas achei esse livro interessante"

A manhã de sexta-feira foi atípica para muita gente que saiu para trabalhar e passou pela Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte. A iniciativa de uma professora de inglês deixou surpresos os pedestres, que encontraram durante o trajeto livros espalhados nos bancos, telefones públicos, nas escadarias do metrô e no chão da praça. O objetivo da educadora Eliene de Souza, 26 anos, e dos 30 alunos da 5ª série do Instituto Coração de Jesus, do Bairro Nova Suíssa, na Região Oeste da capital, era despertar a atenção da população para a importância da leitura no cotidiano. O projeto “Leave a Book!” (abandone um livro) foi inspirado num modelo de troca de livros nos Estados Unidos, conhecido como Bookcrossing, uma prática de deixar um livro num local público para que outros o encontrem, leiam e voltem a abandoná-lo em algum lugar e assim sucessivamente.

Dentro de cada livro, foi deixado um bilhete, informando ao leitor que poderia levá-lo para casa. Colocamos também um endereço de e-mail, para que o leitor pudesse comentar sobre o livro e o projeto. Também, em cada livro, o estudante deixou escrito o motivo da indicação. Na pesquisa que fizemos com os alunos, descobrimos que o método de indicar livro é dos mais eficientes para o incentivo da leitura”, comentou a professora Eliene de Souza.

A auxiliar administrativa Elizete Ferreira de Oliveira, de 21 anos, olhou com desconfiança, pensou em parar, seguiu adiante, mas acabou voltando. Encontrou na escadaria da estação do metrô, na Praça da Estação, um livro infantil que narra a história de uma menina, que aprende de forma descontraída a importância da família. Pensou nos dois filhos ainda pequenos que gostam de ler e acabou pegando o material, e depois de folhear, colocou-o na bolsa e seguiu adiante para o trabalho. “No início, fiquei surpresa, achei que alguém havia perdido o livro, mas, como dono não apareceu, resolvi levar para casa. Depois quero indicá-lo para outras pessoas. É uma ideia muito inteligente, que tem tudo para dar certo e atrair mais pessoas para essa diversão que é a leitura”, comentou.

DESCANSO

A poucos metros, o gari Cláudio Roberto, de 36 anos, sentava num dos bancos da Praça da Estação para descansar. Era mais um dia de trabalho exaustivo debaixo do forte calor. No assento, achou um livro que conta a história de um menino e seus amigos que disputam as ruas do bairro com uma turma adversária. Olhou para os lados e, como não encontrou o dono do livro, acabou aproveitando o momento de descanso para ler. “Não sou muito de leitura, mas achei esse livro interessante”, afirmou.

O ritmo frenético do dia a dia da promotora de vendas Dulcinéia Gregório, de 37, foi interrompido quando entrava na estação do metrô. No caminho, encontrou um livro na escadaria. Achou estranho, mas resolveu pegar o material que contava a história da Bíblia. “Sou evangélica e o título do livro me chamou a atenção. Não sou de andar olhando para o chão, mas hoje tive a sorte de encontrar esse livro.”

A história adaptada do livro Maria vai com as outras, desenhos e histórias de Sylvia Orthof, será a diversão do fim de semana dos filhos e dos sobrinhos do porteiro Hormino Ribeiro do Amaral, de 46, que encontrou o livro no chão da Praça da Estação, perto do chafariz, quando voltava para casa depois de trabalhar durante a madrugada. “Só peguei porque vi o bilhete informando que o livro era para ser levado para casa por quem o encontrasse. Vou pedir a minha mulher para ler a história para as crianças”, entusiasmou.

PROJETO

O projeto “Leave a Book!” ainda deve envolver alunos de 5ª e 6ª séries do Instituto Coração de Jesus. Uma fábrica, praças nos arredores da escola no Bairro Nova Suíça, Região Oeste da capital, e um local turístico de Belo Horizonte, a ser definido, serão os próximos locais onde os alunos vão deixar os livros. “Mostrando para as pessoas a importância da leitura, os estudantes também acabam ganhando incentivo extra para continuar a ler. Para elaborarmos o projeto, pesquisamos os hábitos de leitura no mundo e comparamos o Brasil com os países da Europa. Os alunos descobriram que no Brasil essa prática é muito menor do que nos países desenvolvidos”, contou Eliene de Souza.

O estudante Bruno Vinícius, de 11 anos, que participou da entrega dos livros, disse que, depois de ver o interesse da população que pegou os livros, já pensa em distribuir os exemplares que já leu e guarda em casa. “Se não serve mais para mim, para outras pessoas pode ser importante e a gente tem de incentivar o interesse das pessoas pela leitura”, afirmou.

COMO FUNCIONA

Desde 2001, um site norte-americano, chamado Bookcrossing, mescla o mundo on-line com o mundo off-line por meio de livros. Os interessados cadastram-se no site, juntamente com o livro que pretende “doar ao mundo”. Colocam um número de rastreamento único (definido pelo site) e instruções dentro de cada livro e aí é só deixá-lo em algum lugar público para ser encontrado. Quando alguém encontra um destes livros, tem todas as instruções necessárias para ir ao site registrar a localização do livro e depois repassá-lo, dando continuidade ao processo. Além do valor cultural da iniciativa, participar de um projeto como este pode ser muito divertido. Nunca se sabe onde um livro vai parar. “A nossa ideia era fazer esse mesmo processo em Belo Horizonte com os alunos, mas é muito complicado. Por isso, criamos um e-mail para a pessoas que encontrar o livro nos escrever e dizer se pretende passá-lo adiante”, conta Eliene de Souza.

Fonte: Uai

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