segunda-feira, 21 de junho de 2010

Hábito de ler é um caminho para transformação social

Erick Tedesco

“Retratos da Leitura no Brasil” é a maior pesquisa sobre hábitos de ler no Brasil, uma iniciativa do Instituto Pró Livro e realizado pelo Ibope Inteligência dentro de uma ação do Plano Nacional de Livro e Leitura (PNLL). O resultado, divulgado recentemente, entende que a mudança de status social é possível através da leitura. A pesquisa mostra que os exemplos familiares e do círculo social ainda são os maiores influenciadores na formação da imagem que o leitor médio brasileiro tem do livro e da leitura como ferramenta eficiente para a mudança de vida das pessoas. Fabiano dos Santos, diretor de livro e leitura da Secretaria de Articulação Institucional do Ministério da Cultura (MinC), analisa os resultados desta pesquisa e da importância da leitura na formação política e ascensão social dos cidadãos brasileiros.

Foto: Jr. Novaes

Quando e onde foi realizada a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil"?
Trata-se da mais abrangente pesquisa sobre livros e hábitos de leitura já realizada no Brasil, envolvendo um universo de mais de 172 milhões de pessoas com idade acima de 5 anos, de todo o país. O primeiro levantamento nesse sentido fora realizado em 2001 com o intuito de oferecer um diagnóstico sobre o tema no país. Foram realizados ainda mais dois pilotos. O primeiro, em 2004, no município de Ribeirão Preto (SP) e o segundo, em 2006, no Rio Grande do Sul. Além de estabelecer comparações e estimular o aprofundamento das investigações sobre a situação da leitura no país no período 2000/2007, este último Retratos da Leitura no Brasil permite entender melhor o comportamento leitor da população. O Ibope operou com margem de erro de 1,4% e intervalo de confiança de 95%, ou seja, se a mesma pesquisa for realizada 100 vezes, em 95 delas os resultados serão semelhantes.

Como, de fato, a leitura é um caminho benéfico para a ascensão social?
Podemos verificar a veracidade desse dado através da percepção que as pessoas têm disso. Segundo a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, 35% dos entrevistados, 1 em cada 3, diz conhecer alguém “que venceu na vida” através da leitura, associando o livro à mudança de status social e ascensão profissional. E desses 35%, 45% dizem que esse alguém que “venceu na vida” graças à leitura, é da própria família. Outra pesquisa do IBGE mostra que o servidor federal ganha 101% mais que um funcionário da iniciativa privada, e a explicação é que a maioria dos concursos exige do candidato nível superior. O ensino passa, de forma inequívoca, pela leitura. Em outro aspecto, exemplos como os demonstrados no VivaLeitura de 2009, em que a leitura foi utilizada por um policial para combater a violência, oferecendo alternativa aos jovens da periferia através de uma biblioteca comunitária, e o caso de um líder indígena que integrou sua tribo por meio da leitura, evidenciam essa possibilidade de ascensão social.

Que tipo de leitura é capaz de mudar positivamente a vida das pessoas?
Sem fazer uma lista de obras ou assuntos, é importante destacar o lúdico, não só o didático, mas o que dá prazer à leitura. O ministro Juca Ferreira fala muito disso, que as pessoas se esquecem que é importante despertar o desejo pela leitura. É preciso despertar nas pessoas o desejo de ler, não importa muito o quê. Uma vez despertado o interesse, os objetivos e finalidades vão se ajustando às necessidades sociais individuais. Uma coisa é importante lembrar: ler é despertar para novas realidades. Uma vez desperto, o leitor escolhe como interpretar o caminho que se abre através da leitura.

Como estimular aqueles que não possuem o hábito de leitura?
Através da ação dos mediadores de leitura, por exemplo. O mediador de leitura é todo aquele apaixonado pelos livros. É o professor, o orientador, o livreiro, o editor, a mãe, um familiar. É importante colocar as pessoas em contato com quem cultiva a leitura. É um processo delicado e lento, mas é muito importante. Tão importante que o programa “Agentes da Leitura” transforma em ação governamental algo tão necessário, que é estimular as pessoas a ler. O termo “mediadores da leitura” foi cunhado por profissionais envolvidos na questão do livro e leitura para diferenciá-los dos “Agentes da Leitura”, do Ministério da Cultura (MinC), que têm por objetivo alcançar leitores em todo o país. Esse projeto não vem apenas para emprestar livros, mas para discuti-los, pensar literatura e seduzir novos leitores. Como diretor do Livro, Leitura e Literatura do MinC, fico feliz em estar trabalhando na implantação do projeto nos estados, com a capacitação de três mil agentes de leitura para atuarem no ano que vem, um investimento de aproximadamente R$ 9 milhões em recursos dos ministérios da Cultura e da Educação.

Quais as políticas públicas do Ministério da Cultura que ajudam no processo de incentivar a leitura?
Além de desonerar o mercado editorial, em uma renúncia fiscal de mais de R$ 592 milhões até agora, o Ministério da Cultura investiu entre 2003 e 2008 R$ 191,5 milhões em políticas públicas de incentivo à leitura e acesso ao livro, com a implantação e modernização de bibliotecas pelo país. O aporte de recursos saltou de R$ 6,14 milhões em 2003 para R$ 92,12 milhões em 2008, significando um crescimento de 1.400% de investimentos na área. Em breve, o governo federal enviará ao Congresso Nacional um projeto de lei que cria o Fundo Pró-Leitura, mais uma ação para incentivar a leitura.

Na pesquisa, 73% das crianças citam as mães como maior influenciadora ao hábito de ler. Como a mãe, ou a mulher responsável pela família, deve trabalhar com o filho nesse esforço?
Em conjunto com a escola, por exemplo. A professora é outra influência reconhecida pela pesquisa e pelo senso comum. Se a mãe trabalha isso em casa e a criança tem um reforço na escola, cria-se um círculo virtuoso em que todos ganham. A mãe e a família em si são a maior influência no incentivo à leitura, mas vale lembrar que também o é, inversamente, quando não oferece o exemplo de ler ou não detém a posse de livros.

E no âmbito escolar, qual o meio de o educador legitimar que a leitura faz bem ao aluno e pode mudar a sua vida?
Através do exemplo. Não basta ler. É preciso refletir sobre o que se lê e utilizar a leitura como ferramenta de mudança. Essa mudança pode ser de situação econômica, de ascensão social, de percepção da vida, de crescimento espiritual, para os que crêem nisso, mas acima de tudo, de transformação. Quando o aluno vê no mestre uma pessoa que busca aprender e melhorar a si mesmo, encontra exemplo que legitima a ideia de que, se nos livros não se encontram todas as respostas para todas as perguntas da vida, ao menos a leitura aponta um caminho.

Fonte: A Tribuna

Um comentário:

  1. Sou escritor estou dando palavras como maneira de envolver as pessoas no universo dos livros...Em minhas aulas também procuro motivar os jovens e adolescentes ao hábito da leitura. Acho que o governo deveria também entre outras bolsas criar a"Bolsa Livro"para pessoas carentes e espeficicamente aos professores

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