segunda-feira, 21 de junho de 2010

Crianças, as campeãs de leitura

Estudo revela que o público mirim é o que mais lê no País e mostra a importância da família na criação deste hábito

Rodrigo Cardoso  
Nas avaliações sobre língua portuguesa, os estudantes brasileiros costumam ter desempenho ruim em redação e compreensão de texto, uma das consequências dos baixos índices de leitura no País. Um levantamento inédito coordenado pelo Observatório do Livro e da Leitura (OLL) mostra que a nova geração pode ajudar a mudar este quadro. Segundo a pesquisa, as crianças são os que mais leem no Brasil: 6,9 livros por ano na faixa entre cinco e dez anos e 8,5 livros por ano entre 11 e 13 anos (leia quadro ao lado). "Nossa experiência sugere um aumento no índice de leitura entre as crianças nos últimos anos", diz Galeno Amorim, diretor da OLL.

Pesquisador da área de educação, Amorim debruçou-se sobre números da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada no ano passado, que ouviu 5.012 pessoas no País. Os dados trazem uma mensagem aos editores, professores e gestores de políticas públicas: ler para a criança é fundamental para a formação de uma sociedade afeita às letras. De acordo com a pesquisa, dois em cada três leitores se recordam dos pais ou adultos envolvidos com livros em casa. Na mesma proporção, quem não tem esta lembrança da infância, também não desenvolveu o hábito.

A fonoaudióloga paulista Ana Clélia Rocha, 43 anos, costuma ler com a filha, Clara Santos, de oito anos, à noite e nos fins de semana. "É uma prática da família, não apenas por estudo, mas por prazer", explica Ana. "Costumamos nos presentear com livros e, agora, minha filha só se interessa pelos maiores." Depois da mãe, é o professor quem mais aguça a vontade das crianças de ler.

Aluna do terceiro ano do ensino fundamental do colégio Santo Inácio, em São Paulo, Clara leva todo mês para casa quatro exemplares da biblioteca da escola e Ana Célia recebe regularmente relatórios em que o interesse da filha pela leitura é avaliado. No momento, a menina está no último volume de uma série de quatro livros de cerca de 150 páginas cada um. Por mês, Clara devora 12 livros. O curioso: sempre com o som ligado.

Ler com música costuma causar estranheza em muitos pais e educadores, mas o hábito é apontado como uma das razões para a intimidade com as letras. É o que defende a pesquisadora de leitura e formação do leitor Tania Rösing, professora da Universidade de Passo Fundo (RS). Na opinião dela, o mercado editorial está sendo assediado pelo mundo eletrônico e um não deve excluir o outro.

"Os jogos de computador têm narração, personagens, apresentam obstáculos e tempos distintos, o que é semelhante a um livro literário", diz Tania, coordenadora da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (RS), uma das maiores feiras literárias do País. "Crianças com acesso a games e internet têm, portanto, mais facilidade para ler", diz ela.

Essa turma foi batizada por dois pesquisadores holandeses de Homo Zappiens - em alusão ao verbo zapear, uma forma de aumentar a captação de dados ao se expor a uma enorme quantidade de informações no menor tempo possível. Trata-se da geração nascida a partir dos anos 90 que lê enquanto ouve música, manipula celular e está de olho na tevê. Segundo o estudo da OLL, entre os brasileiros de cinco a dez anos, 13% leem com a tevê ligada e 6%, ouvindo música.
CONFORTO Espaços infantis: trunfo das livrarias para atrair a garotada

O conteúdo das obras também tem contribuído para que os leitores mirins se apeguem aos livros, pois as histórias, hoje, exigem uma reflexão maior. "Antigamente, tudo parecia estar no seu devido lugar: a bela adormecida sempre esperava o príncipe", diz a professora de literatura Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília (UnB). "Felizmente, o dragão agora aparece também como bonzinho.

Narrativa boa é a que expõe a complexidade dos personagens." Mãe de um garoto de oito anos, Regina costuma levar o filho aos espaços infantis das livrarias, onde, nos fins de semana, há inclusive contadores de histórias. "Eu não encontrava isso no País até o nascimento dele", diz. "Meu filho adora e sempre sai de lá com um livro." Decorados de forma atraente para as crianças, que podem folhear livremente as publicações, esses locais são os principais trunfos das grandes redes para incentivar e conquistar esse público ávido por mergulhar no mundo das letras.

FOTOS: SAMIR BAPTISTA/AG. ISTOÉ; BRÍGIDA
 RODRIGUES/FOTORREDONDA; CLEIBY TREVISAN/AG. ISTOÉ


Fonte: Isto É

Um comentário:

  1. Os baixos índices de leitura no Brasil se devem ao inexistente interesse do governo de realmente melhorar a educação em nosso país.
    Isso só será corrigido quando as escolas formaram leitores verdadeiros com extenso vocabulário e não só se preocuparem em contabilizar quantos alunos estão matriculados ou foram empurrados a terminar o ensino fundamental como analfabetos funcionais.

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